Webtoon, a junção de web com cartoon, é um formato de história em quadrinhos de origem coreana que aos poucos vem conquistando o mercado ocidental. Devido a sua natividade digital e seu caráter amador, esse estilo de contar histórias é bastante flexível, contando histórias diferenciadas graças à liberdade de criação de seus artistas e independência editorial.

Apesar da crescente popularidade nos últimos quatro anos no mundo ocidental, principalmente nos E.U.A., marcada pela entrada de editoras coreanas traduzindo oficialmente diversos títulos populares de webtoon, há poucos estudos sobre o formato e sua aplicação. A linguagem singular dos webtoons permite novos layouts para contar histórias, mudando por consequência também suas narrativas.

Na busca de entender como funciona esse novo layout para executá-lo num romance original, é necessário analisar os diversos recursos narrativos de criação de roteiros e de composição de layout.

“Os quadrinhos são uma LINGUAGEM SECRETA à parte, e DOMINÁ-LA apresenta desafios diversos dos enfrentados por qualquer prosador, ilustrador ou outros profissionais de criação”. (McLOUD, 2008, p.2)

Essa análise permite a averiguar como unir roteiro e design, criar personagens humanos críveis e o processo de criação, desde o conceito da história, até sua publicação.

Para isso é fundamental o estudo da narrativa de forma a elaborar um enredo que possa transcender seu roteiro para linguagem pictórica dos quadrinhos. Englobando assim, em seu desafio a elaboração de um mundo crível através de cenários e personagens humanizados.

A ideia que dá origem para o roteiro parte da discrepância entre os ideais de predestinação amorosa e casualidade afetiva, representadas respectivamente pela Lenda do Fio Vermelho do Destino e o Amor Líquido de Zygmunt Bauman. Com o entendimento de ambos os pontos de vista, é possível criar a hipótese que virá a ser discussão central da obra.

O desenvolvimento do roteiro, entretanto, só é possível através da compreensão de elementos narrativos, e como utilizá-los numa história a fim de envolver o leitor. Entretanto, mais do que a trama em si, são os personagens que a habitam que por sua humanidade engajam o público em suas jornadas, tornando imprescindível sua composição detalhada tanto psicologicamente quanto fisicamente.

Transformar essa narrativa escrita em uma história em quadrinhos é saber discernir quando usar palavras ou imagens na composição narrativa.

“As palavras sozinhas vêm contando histórias há milênios. E se saíram bem sem imagens. Mas nos QUADRINHOS as duas coisas têm de trabalhar juntas SEM EMENDAS, a ponto de os leitores mal notarem quando estão passando de uma para outra”.

McCLOUD, 2008, p.31

Esse discernimento parte do estudo de preceitos como clareza, persuasão e intensidade. Todavia, alguns desses preceitos mudam quando aplicados aos webtoons.

O principal é o fluxo de leitura dos webtoons que cria uma gama de possibilidades de condução visual e ressignifica alguns elementos da história em quadrinhos, como o uso da calha. Esse fluxo também transforma a forma de ler do leitor, que se torna ativo na construção da tensão narrativa.

Particular do meio que os webtoons são publicados, a frequência de publicação de séries varia entre 7 a 14 dias de intervalo, exigindo uma preparação prévia do artista para cumprir os prazos.

Através da observação dos impasses criados ao desenvolver um romance original, abre precedentes para criação de dicas para aqueles que desejam serializar seu próprio webtoon.

Todavia, além dos processos criativos tanto narrativos quanto do design, surge à questão de onde desenhar o webtoon.

Entre os diversos softwares gráficos, dois grandes nomes se destacam, sendo esses o Photoshop da Adobe Systems e o Clip Studio Paint da Celsys, sendo o último o considerado por seus recursos voltados para concepção de quadrinhos.

Com base nas obras que discutem sobre os elementos da narrativa para filmes, livros e quadrinhos de grandes nomes da indústria e exploração prática de suas teorias por meio de um webtoon, esse trabalho visa explorar o processo criativo da concepção de uma história verdadeiramente adaptada para o meio digital.